quinta-feira, 14 de abril de 2011

Curiosidades...




Palacete da Ilha Fiscal. Foto: Volvo

O palacete da Ilha Fiscal, projetado em 1881, pelo engenheiro Adolfo del Vecchio, foi inaugurado em 27 de abril de 1889 com a presença do Imperador, acompanhado de Gastão de Orleans, Conde d'Eu e brilhante comitiva. 
Em estilo neogótico, com inspiração nos castelos do século XIV, em Auvergne, na França, o projeto foi agraciado com a Medalha de Ouro na exposição da Escola Imperial de Belas, e elogiado pelo Imperador “como um delicado estojo, digno de uma brilhante jóia”, referindo-se a sua privilegiada localização e a beleza da Baía.

Perfeita combinação de arte e engenharia
O palacete conta com duas alas laterais com pequenas torres nas extremidades.
No segundo andar da torre alta fica a sala do então chefe da aduana, um gabinete com um piso ricamente trabalhado com vários tipos de madeiras brasileiras, móveis de jacarandá e ébano, forrados em couro de Córdoba.
Hall de entrada. Foto: Arquitetando meu casamento.
O Hall do palacete é belíssimo, composto de sala de estar e jantar, decoradas com mobiliário do final do século XIX. Mas, originalmente, o hall não era um local construido para eventos sociais, e sim um local de trabalho e fiscalização do porto do Rio de Janeiro. O Capitão dos navios que ali aportassem deveriam levar à aduana um relato da carga que transportavam para a aplicação dos impostos.
O piso é uma obra de arte da marchetaria -  a arte de empregar madeiras incrustadas e aplicadas em peças de marcenaria para formar desenhos variados.  Construído em madeiras de lei brasileiras formando um grande mosaico com o desenho da rosa dos ventos. Foi confeccionado com madeira de quatorze diferentes espécies, algumas extintas como: amendoim, pau-brasil, pau-cetim, peroba-do-campo, tremida, raiz de imbuia e roxinho; outras em extinção como: jacarandás da Bahia, do Rio de Janeiro, do Espírito Santo e de Minas Gerais; outras ainda disponíveis como: canela, imbuia, garapa, pau-marfim, peroba-do-campo e sucupira. Esta obra foi executada pela firma Moreira & Carvalho.

Ali também podem ser admiradas obras de cantária artística em granito fluminense, como o teto em abóbodas ogivais góticas talhadas em pedra, sendo uma perfeita combinação de arte e engenharia.

Trabalho de cantaria. Foto: Vitor Brasil

O trabalho em cantaria  é notavel por ter peças inteiras esculpidas como as varandas acima, e o brasão do monarquia ao centro. A pedras foram trazidas do morro do Pasmado em Botafogo, e o trabalho de cantaria é de Antônio Teixeira Rodrigues, Conde de Santa Marinha, proprietário da pedreira Saudade da Urca. Todo o trabalho foi feito por escravos.
Brasão da Monarquia. Foto: Vitor Brasil
Destaca-se como trabalho excepcional o brasão da monarquia, feito por um auxiliar do Conde, um preto velho que era um verdadeiro artista e que contava com a admiração do Engenheiro Del Vechio. Devido à esta admiração, o Engenheiro lutou pela preservação do brasão, que esteve ameaçado de ser destruído após a Proclamação da República.

... Numa certa manhã, já na República, uma embarcação passava em frente à Ilha Fiscal tendo a bordo Rui Barbosa, Aristides Lobo, Quintino Bocaiúva, Del Vecchio e outros. Ao observarem o brasão, um dos passageiros da lancha declarou:
Nesse momento, Del Vecchio interveio e dirigiu-se aos componentes da comitiva argumentando:
"Como? Pois o Brasil republicano ainda conserva em um próprio nacional as armas da monarquia! Que se o derrube!"
"Não, senhores. Por Deus! Se mereço alguma coisa da República à qual pretendo servir com a mesma lealdade e o mesmo espírito de sacrifício com que servi ao Império, peço que não toquem naquele emblema. É uma obra prima de cantaria. Fê-la um velho auxiliar do Conde Santa Marinha, um preto septuagenário que é um verdadeiro artista. Hoje, cego e desamparado, acredito que ele sofreria bastante se soubesse que o seu trabalho de tão penosos dias fora cruelmente destruído. Por isso, meus senhores, por favor, imploro a conservação do escudo."
Da ocasião, data a consagração do edifício da Ilha Fiscal como imperecível obra de arte e patrimônio de uma era, devido a ostentar decoração inspirada na monarquia.

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