quinta-feira, 14 de abril de 2011

A llha Fiscal e sua importância

Uma das grandes atrações do roteriro histórico-cultural do Rio é a Ilha Fiscal. Mas não foi sempre assim... Ilha dos Ratos, esse era seu nome, devido a presença daqueles roedores, que teriam migrado da ilha da Madeira, atual ilha das Cobras, após a devastação da vegetação que a caracterizava.

Sob esse nome nada elogioso, existia uma pequena ilha, constituída apenas de um aglomerado de pedras na baia de Guanabara. Mas tarde, aterrada e com outro nome, seria sede da Hidrografia brasileira.

A transformação teria início com o Engenheri Del Vecchio, que construiu, de 1881 a 1889, um dos mais belos monumentos do período imperial no Rio de Janeiro. E o novo nome: Ilha Fiscal, por destinar-se à Alfândega.

No século XIX, o Conselheiro José Antônio Saraiva do Ministério da Fazenda, solicitou construir-se um posto alfandegário para o controle das mercadorias a serem importadas e exportadas pelo porto do Rio de Janeiro, então Capital do Império. A posição daquela ilha era bastante cômoda para os inspetores da Alfândega, devido à proximidade dos pontos de fundeio, sendo que o translado de mercadorias poderia ser executado em embarcações miúdas, sem grandes dificuldades.

O mapa abaixo ilustra a posição estratégica da Ilha Fiscal.
Posição estratégica da Ilha Fiscal. Foto: Marinha do Brasil

Mas a Ilha tornou-se famosa por ter abrigado o último baile da corte, organizado pelo Visconde de Ouro Preto em homenagem à guarnição do encouraçado chileno Almirante Cochrane, em 9 de novembro de 1889.
Com essa recepção, o Império reforçava os laços de amizade com o Chile, bem como tentava reerguer o prestígio da Monarquia, bastante abalado pela propaganda republicana.

O último Baile da Monarquia

O Baile da Ilha Fiscal foi uma festa que mudou o cotidiano da cidade. Cerca de 3 mil pessoas compareceram a festa. A maior festa até então realizada no Brasil ocorreu pouco após a inauguração da ilha.

A ilha estava tão cheia, que não era possível que todos os convidados entrassem no palacete ao mesmo tempo. Mas a comida e bebida eram fartas e requintadas. Duas orquestras tocaram polca e valsa por toda a noite, enquanto os convidados dançavam pela ilha. O som das orquestras preenchiam todos os ambientes, inclusive ao ar livre.

A Ilha foi especialmente decorada e iluminada, inúmeros móveis foram trazidos para festa, principalmente para decorar os salões mais reservados ao Imperador e Princesa Isabel.

A imprensa da época deu grande destaque ao eveneto, noticiando o comportamento dos convidaddos, o luxo e as extravagâncias, curiosidades que ainda atraem historiadores hoje.
O Último Baile.  Tela de Aurélio de Figueiredo. 1905

Cardápio do Baile. Foto: Cozinha e Literatura

Convite do Baile. Foto: Cozinha e Literatura.
A república foi proclamada seis dias depois do baile, e o imperador embarcou no mesmo Cais Pharoux de onde partiam os ferry-boats para levar os convidados para o baile. Vale observar que o cais Pharoux, no centro do Rio, hoje é conhecido como Praça Quinze, onde recentemente recuperaram-se as escadarias utilizadas para o embarque para a Ilha .

Outros momentos importantes...

A Ilha Fiscal também se destaca por outros momentos importantes na história do Brasil.

Em 1893 a Ilha foi tomada de assalto, quando irrompeu a chamada "Revolta da Armada", comandada pelo Almirante Custódio  de Mello, quando parte da Marinha rebelou-se contra o governo do Presidente Floriano Peixoto.

Durante 6 meses a ilha ficou em meio ao duelo de artilharia travado entre as Fortalezas leais ao governo, e os navios e fortalezas da Ilha das Cobras e da ilha de Villegagnon na posse dos revoltosos.

Múltiplos foram os danos sofridos pela edificação da Ilha Fiscal com as paredes atingidas por projetis, agulhas de ferro derrubadas, avarias sérias nos telhados, fiação, móveis partidos além de estragos nos belíssimos vitrais.

Revolta da Armada. Foto: Juan Gutierrez - Museu Histórico Nacional.
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Ilha Fiscal. Foto: Marinha do Brasil
Como as despesas de restauração seriam vultosas, o engenheiro do Ministério da Fazenda Miguel R. Galvão sugeru a entrega da Ilha Fiscal ao Ministério da Marinha, em troca de algum edifício que melhor se prestasse ao serviço da alfândega.

A troca ocorreu em 1913, não por um edifício, mas pelo Vapor Andrada, proposta do Almirante Alexandrino Faria de Alencar, Ministro da Marinha, ao seu colega da Fazenda Dr. Rivadávia Correia.

A partir de 1914, a Marinha fez funcionar nesse local, sucessivamente, a Repartição de Faróis, Repartição Hidrográfica, Repartição Central de Meteorologia, Repartição da Carta Marítima, Superintendência de Navegação, Diretoria de Navegação e finalmente a Diretoria de Hidrografia e Navegação.


A partir de 1998 a Marinha decidiu tornar o edifício aberto ao público e preservá-lo como parte da memória naval e mostrar a contribuição da Marinha Brasileira no desenvolvimento científico, tecnológico e social do Brasil através de exposições permanentes.

Em 1930, a Ilha Fiscal foi ligada à das Cobras por meio de um molhe de concreto transformando-as em duas ilhas geminadas ou, geograficamente, em uma só ilha.

Em 1983, a DHN foi transferida para a ponta da Armação, em Niterói. A última organização militar que permaneceu na Ilha Fiscal foi o Grupamento de Navios Hidroceanográficos, até março de 1998.
O edifício encontra-se tombado pela Prefeitura do Rio de Janeiro desde 1990, tendo passado por diversos trabalhos de restauração desde 2001, coordenados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), quando foram restauradas as pinturas do teto, das paredes e do mosaico do piso de parque do torreão.

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